13 de março de 2024

O valor acrescentado para o cliente e a regulamentação irão moldar os pagamentos do futuro

CincoDías

Os principais intervenientes do setor debatem os desafios que as diferentes instituições financeiras enfrentam numa conferência organizada pelo Cecabank e o jornal CincoDías.

O mercado dos pagamentos está em permanente evolução, fomentado pela facilidade de adoção dos diferentes sistemas pelos clientes, o que provoca a proliferação de outros serviços que vão além do simples ato de pagar. No seu último relatório trimestral, o Banco de Pagamentos Internacionais (BIS) refere que nos países onde foram desenvolvidos sistemas de pagamentos automáticos, o acesso ao crédito também avançou. É importante pagar de forma rápida e fácil, mas é fundamental estarmos preparados para os desafios que nos esperam.

Com a implementação das transferências instantâneas por parte do BCE e o euro digital em desenvolvimento, é fundamental analisar o papel das tecnologias emergentes em matéria de pagamentos e refletir sobre o quadro regulamentar presente e futuro. Assim o demonstraram, na passada quarta-feira, o setor financeiro, a banca e os operadores de pagamentos, durante uma conferência organizada pelo Cecabank e o CincoDías, que reuniu 200 participantes de mais de 85 organizações e que foi inaugurada por Juan José Gutiérrez, diretor corporativo de Serviços Tecnológicos do Cecabank, e Nuño Rodrigo, chefe de redação de mercados do EL PAÍS.

O primeiro orador a usar da palavra foi Juan Carlos Martín Guirado, diretor executivo do Sistema de Cartões e Meios de Pagamento (STMP), que se congratulou com o papel de referência desempenhado por Espanha no mundo dos pagamentos digitais: “Em três anos, a utilização de cartões aumentou mais de 10% em relação ao numerário no nosso país. Temos de estar preparados para as mudanças que a inteligência artificial nos vai trazer e criar músculo através da colaboração entre empresas", esclareceu Guirado. Eduardo Prieto, CEO da Visa em Espanha, também sublinhou a necessidade de fomentar a colaboração entre empresas e aproveitou a oportunidade para falar sobre o potencial da IA: “Temos de ir mais além com a inteligência artificial e procurar novas utilizações, como o seu valor como identificador dos padrões de consumo dos clientes. Necessitamos de colaboração, investimento e senso comum para acompanhar o ritmo da tecnologia”.

A segurança em análise

Neste ambiente em mudança, um dos aspetos que mais se pode ressentir é a segurança. Sendo certo que as empresas trabalham de acordo com as normas mais exigentes, estes controlos exaustivos podem provocar fricções na experiência do utilizador. Neste sentido, o presidente da Swift Iberia, Rubén González, acredita que é fundamental gerar economias cada vez mais digitalizadas que criem menos fricções e pagamentos mais rápidos. “A Swift está a trabalhar na construção de uma plataforma baseada em API (Interface de Programação de Aplicações) que faça a pré-validação das transações e agilize todo o sistema de pagamentos", acrescentou Gonzalez.

Ángel Nigorra, CEO da Bizum, salientou que as empresas devem simplificar o que é complexo para os clientes: “Devemos criar valor acrescentado e concentrar-nos na tecnologia adequada para os utilizadores. Neste sentido, estamos a trabalhar para complementar os pagamentos, através da identificação segura dos utilizadores na Internet, mediante os seus dados fiáveis fornecidos às instituições bancárias”.

O vice-presidente de segurança de ativos digitais da Mastercard, Alberto López, destacou que a fraude no âmbito da Diretiva dos Serviços de Pagamento revista (DSP2) foi reduzida em 25% no último ano e em mais de 50% desde a sua implementação em 2013, mas acredita que ainda há espaço para melhorias: “O caminho é no sentido da simplificação das operações para o utilizador. Não é apenas a obrigação de autenticar o cliente, se reconhecermos o dispositivo, o IP, o comportamento de compra... provavelmente, a pessoa por detrás do dispositivo é o verdadeiro cliente. Estes dados servirão para acabar com as fricções na operação”, explicou López.

Alejandra Bernabei, CEO da Euro 6000, sublinhou o ónus que a entrada em vigor da DSP3, prevista para o final de 2024, irá representar para a agilização e adaptação do sistema de pagamentos aos desenvolvimentos que estão por vir: O setor está consciente da necessidade de combater a fraude, mas acreditamos que a responsabilidade que lhe está a ser atribuída não é a forma adequada de a travar. Precisamos também da colaboração das empresas de telecomunicações e da Administração Pública”.

Gonzalo Pérez del Arco, vice-presidente de assuntos governamentais da AmEx Europe, defendeu que a DSP3, que corre o risco de sofrer de "um excesso de prescrição regulamentar", deve regressar aos objetivos originais da DSP e da DSP2: a harmonização do mercado de pagamentos, a abertura a mercados terceiros e uma maior segurança nas transações.

Pérez del Arco acolheu com agrado a possível unificação de critérios na definição dos diferentes tipos de fraude, ainda que cada país continue a aplicar as sanções que melhor lhe convierem.

As moedas digitais e o seu impacto nos pagamentos

Tal como no ano passado, as moedas digitais dos bancos centrais, ou CBDC (Central Bank Digital Currency), ocuparam o seu lugar nestas jornadas. Para debater a sua criação e o impacto nos pagamentos, o Cecabank convidou dois dos principais impulsionadores destas moedas digitais: como elemento do Eurosistema, Ana Fernández, responsável pela unidade de novos produtos e serviços do Banco de Espanha, e Diana Carrasco, diretora da Libra Digital no Banco de Inglaterra.

Fernández agradeceu ao Cecabank a sua colaboração no desenvolvimento do Euro Digital e explicou que o Eurosistema está a dar prioridade aos pagamentos entre particulares e às administrações públicas no desenvolvimento desta moeda, bem como a impulsionar os pagamentos offline entre utilizadores sem necessidade de aceder à Internet, o que também proporcionaria um nível de privacidade semelhante ao do numerário.

Carrasco, por sua vez, explicou que o Banco de Inglaterra está atualmente imerso num processo de receção de ideias sobre possíveis utilizações para a sua moeda digital: “Há aspetos que assumimos como normais na experiência de receção de pagamentos que talvez possam ser melhorados. Por exemplo, sempre que compro alguma coisa, a cobrança é feita na hora, mas quando a devolvo, demora uma semana a aparecer na minha conta. Talvez alguém possa conceber uma solução através dos CBDC”.

Santiago Carbó, diretor de estudos financeiros da Funcas, mostrou-se cético em relação aos CBDC: “O dólar digital não vai ser lançado. Talvez devêssemos ser cautelosos ao enveredar por algo que os americanos vão deixar passar”: Carbó salientou que as moedas digitais podem fazer sentido para reduzir a exclusão financeira, mas “o grande teste para as moedas digitais vai ser a sua adoção. A chave será aproveitar as vantagens dos sistemas privados existentes”.

José Luis Encinas, CEO da Iberpay foi claro neste sentido: “Os objetivos da Europa com o euro digital são os mesmos que prossegue com a implementação das transações imediatas: Soberania, paneuropeísmo, soluções alternativas às redes de cartões e eficiência. Se a banca e o setor europeu generalizarem o pagamento instantâneo entre empresas, o euro digital contribuirá com muito pouco”.

Contacto de Imprensa

Fale connosco