
Rafael Linde, diretor de Desenvolvimento Internacional e Gestão de Relações Globais do Cecabank, faz uma reflexão no Cinco Días sobre os desafios e prioridades na evolução dos pagamentos transfronteiriços, num contexto de crescimento exponencial do volume de operações.
De acordo com dados do Banco da Inglaterra, espera-se que estes pagamentos atinjam 250 biliões em 2027, o que representa um aumento de 100 biliões em apenas uma década. Este fluxo global de capital é sustentado por uma complexa infraestrutura de plataformas, câmaras de compensação e bancos correspondentes, cuja eficiência e segurança são fundamentais para o comércio internacional.
Linde salienta que, muito embora o G20 tenha estabelecido objetivos ambiciosos para melhorar a velocidade, a transparência e o custo dos pagamentos transfronteiriços, nenhum destes foi alcançado até à data, de acordo com o acompanhamento efetuado pelo Financial Stability Board (FSB). Concretamente, o objetivo de que 75% dos pagamentos sejam efetuados em menos de uma hora contrasta com a realidade atual, em que apenas entre 1% e 30% cumprem esse prazo. Face a esta situação, surge a necessidade de reconsiderar alguns objetivos, especialmente os relacionados com a velocidade, priorizando a segurança como elemento essencial.
A aceleração dos pagamentos comporta riscos significativos, como fraude e branqueamento de capitais, cuja gestão já representa um investimento anual multimilionário. Se as transações fossem liquidadas em segundos, a margem para aplicar controlos de conformidade seria reduzida, o que poderia comprometer a integridade do sistema. Acresce que o funcionamento 24 horas por dia, 7 dias por semana, exigido pelos pagamentos instantâneos, coloca desafios técnicos e financeiros às instituições, desde a contabilidade contínua até à gestão da liquidez e do risco cambial.
Linde alerta igualmente para o risco de concentração do mercado nas mãos de grandes entidades com capacidade para assumir estes custos, o que poderia afetar a concorrência e contrariar o objetivo de reduzir os custos dos pagamentos. Nesse sentido, propõe uma reflexão mais profunda sobre o modelo económico dos serviços de pagamento, questionando a perceção de gratuidade de muitos dos utilizadores e defendendo que sejam os fornecedores a definir as suas próprias políticas comerciais.
Por último, salienta que a melhoria da experiência do utilizador deve orientar os esforços do setor, evitando soluções padronizadas para realidades distintas. A urgência em acelerar os pagamentos não deve ser a mesma em todas as geografias, sobretudo quando em zonas como a SEPA já são processados em minutos. Num contexto global exigente e com recursos limitados, Linde conclui que a sustentabilidade, a segurança e a confiança devem ser os pilares sobre os quais se constrói o futuro dos pagamentos transfronteiriços.